CALAR AS GRANDEZAS

CALAR AS GRANDEZAS

– Por Huberto Rohden* –

Perguntaste-me, amigo, se eu ia escrever um livro sobre o poeta cristão de Assis… Chaga dolente me reabriu no espírito essa pergunta.
Ante os meus olhos surgiu toda a potência do meu querer – e toda a insuficiência do meu poder… Eu, é verdade, já cometi delitos dessa natureza -escrevendo sobre os heróis do espírito.
Mas, à última página, foi sempre maior o remorso que a satisfarão…
Espetada no museu a minha borboleta – via eu que perdera os mais belos encantos… Grandezas da alma não se podem dizer – só se podem calar.
Livro sobre as maravilhas divinas no homem – só devem constar de reticências e páginas em branco…
Como se pode tocar em tão delicado cristal – sem o quebrar?…
Como se pode colher uma flor – sem a matar?…
Como se pode apanhar borboleta – sem lhe tirar das asas o finíssimo pó?…
Como se pode recolher das folhas, com grosseira colher de pau, as pérolas do orvalho noturno?…
Como poderia eu assoalhar em praia pública a vida íntima duma alma?…
Como apregoar nas ruas os segredos anônimos dum coração?…
Como escancarar à devassa de olhos impuros o sancta sanctorum do templo de Deus?
Como poderia eu dizer a homens mortais o que o santo nem soube dizer ao Deus imortal?
Não, meu amigo, não posso escrever sobre as grandezas do poeta cristão de Assis. Prefiro admirar em plena liberdade esse sopro de Deus a analisá-lo no laboratório.
Em vez de falar – vou calar as grandezas do herói.
Assim, se não acerto em dizer o que ele é – não digo ao menos o que não é…
Sobre o papel do silêncio, com a tinta das reticências – escreverei a biografia do grande anônimo de Assis…
Ou, se quiseres, lançarei ao mundo uns fragmentos amorfos, com os quais poderás arquitetar o que entenderes.
Amor e alegria, entusiasmo e serenidade, sofrimento risonho e espontânea renúncia – e tudo isso aureolado de espiritual leveza e jubilosa felicidade – eis as pedras para o edifício!
Não o levantarei, para que o possas construir – segundo o teu plano.
Não se prendem raios solares – em gaiolas de ferro.
Não sei vazar em períodos corretos a poesia da Natureza.
Não sei definir com silogismos – uma alma ébria de Deus.
Nada disso sei – só sei calar grandezas humanas.
Porque toda grandeza é anônima.
Como anônimo é Deus.
O Inefável.

(Texto extraído do livro “De Alma Para Alma” – do genial filósofo brasileiro Huberto Rohden – Editora Martin Claret.)

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