A Mae Suicida – André Luiz Gadelha

A MÃE SUICIDA

Na capela de um hospital, encontra-se Luiz Augusto. Há 15 dias, recebeu a dádiva de ser pai. Porém, não havia alegria em seu semblante: o nosso irmão acabara de tornar-se viúvo.

Luiz e Helena conheceram-se no trabalho. Ele, responsável pelo setor de compras de uma grande empresa. Ela, representante comercial de um dos fornecedores da empresa de Luiz Augusto.

Num processo de compras, eles se conheceram e sentiram-se atraídos mutuamente.

Surgiram as primeiras conversas fora do cenário profissional, dando início ao estreitamento afetivo, levando-os ao matrimônio.

No 5º ano de casamento, resolveram ter um filho.

Depois de 4 meses da decisão, Helena engravida. A felicidade toma conta da vida do casal e dos seus familiares. Era é o que faltava para coroar essa união, exemplo de amor.

Havia um lar saudável e um casal transbordando de carinho para receber esse novo ser humano. Tratava-se de um menino. Joaquim ele iria se chamar, conforme comum acordo dos pais.

Mas, no 3º mês de gestação, Helena havia sido diagnosticada com uma doença grave, descoberta, por acaso, durante o pré natal.

Sabe aqueles momentos em que testemunhamos um dia lindo e maravilhoso e, de repente, o tempo fecha e o céu é tomado por nuvens negras? Pois bem. Assim ficou o lar de Luiz e Helena.

Apesar do ar pesado que tomou conta de todos, uma decisão precisava ser tomada: salvar a mãe ou o filho?

Era imperativo o tratamento de Helena. Porém, envolvia a administração de remédios fortes, em dosagens intensas e que trariam vários efeitos colaterais, dentre os quais, o aborto da criança.

Por outro lado, se a gestação fosse levada até o fim, salvando Joaquim, não mais haveria tempo de salvar Helena, cabendo à equipe médica, apenas, a administração de fortes analgésicos e sedativos para aliviar as dores que, então, seriam implacáveis.

Parecia que o destino havia carimbado o futuro daquela família: ou Luiz e Helena abriam mão do tão esperado e planejado filho ou o Joaquim cresceria sem mãe.

Na reunião envolvendo os médicos e os nossos protagonistas do destino, Helena tomou a palavra após as devidas explicações técnicas:

– Não quero o tratamento. Se salvar-me significa matar o meu filho, prefiro morrer. Além do mais, quem sabe a alegria da gravidez e a preocupação em carregar essa vidinha em meu ventre não me desliguem da tristeza da doença e as coisas se invertam? Certo é que não quero o tratamento.

Em vão foram os apelos de Luiz, rapidamente derrubados pela genitora:

– Luiz, o que espera de mim? Que eu seja uma mãe assassina? Que mãe serei eu se matar o meu próprio filho? Compreendo que a escolha é muito difícil para você. Não é fácil decidir qual amor perder e qual amor salvar. Então, apenas abstenha-se e respeite a minha decisão.

E assim foi feito.

Ao cabo dos 9 meses de gravidez, Joaquim nasce com total saúde. Os cuidados adicionais tomados durante o pré -natal garantiram isso.

Mas, Helena, 15 dias após tornar-se mãe, falece, vencida pela doença.

Após o instante supremo da amada, Luiz Augusto recolhe-se na capela do hospital em lágrimas. É quando chega Plínio, seu amigo de infância e padrinho de casamento dele com Helena.

Após, forte abraço amigo, Plíno fala:

– Vai cara. Desabafa. Fala tudo o que tens a dizer.

Então, Luiz inicia:

– Estou eu aqui, rezando em três partes: a primeira, é perguntando pelo porque. A segunda é pedindo forças para suportar as exigências de cuidar de uma criança carregando a dor da saudade de quem se ama. A terceira é pedindo que Helena seja perdoada pelo suicídio que cometeu.

Plínio, amigo sempre presente na vida de Luiz, o conforta com palavras:

– Amigo, não sei se conseguirei responder de forma a refrigerar o teu coração, mas responderei de acordo com a certeza que a minha fé me dá e que você conhece, já, muito bem.

O porque, não sabemos. Só posso te dizer que tudo o que nos acontece é por nossa própria conta, seja por uma decisão ou por algo que tenhamos que aprender. Tenha a certeza de que Helena estava muito consciente a respeito da situação que o destino a envolveu.

Sobre a força que pedistes, o Nosso Pai Celestial não deixa a nenhum de nós ao desamparo. Ele não permite que chegue às nossas costas um fardo mais pesado que as nossas forças. Por isso, meu caro, tenho a certeza de que você consegue vencer essa barra.

A respeito da terceira, afirmo que estás enganado quanto a Helena. Ela não é suicida.

Luiz, com um sorriso de gratidão, responde ao amigo:

– Plínio, meu amigo. Tudo bem que queira me confortar, mas não precisa mentir para mim. Helena sabia, a todo o tempo, que iria morrer se decidisse não se tratar. Os médicos deixaram isso bem claro para ela. Então, ela tinha a certeza de que essa decisão a levaria a morte. Ela tinha certeza de que iria morrer. Isso é suicídio.

Plínio, então, explica:

– Não, Luiz. Não é assim. Para ser um suicida não basta, somente, levar a termo um ato mortal. É necessário, também, ter essa intenção.

Helena sabia que iria morrer, tubo bem. Mas, a intenção dela não era por fim a sua própria vida. Era salvar a do filho. Assim se age quando se é mãe. Digo, mãe de verdade tal como Helena e tantas que existem nesse mundo.

Achas, mesmo, que Helena queria se matar? Ela ama essa criança desde quando vocês viram aquelas duas listras vermelhas naquela fitinha. Você mesmo me disse que ela saiu correndo do banheiro, gritando feito uma louca.

Nesse momento, os amigos riem juntos, amenizando a tristeza. Plínio, prossegue:

– A mãe, desde a gestação, divide tudo com o filho. Os anticorpos, a respiração e a alimentação.

A mãe sempre tem o filho em primeiro lugar, antes mesmo dela própria.

Uma mãe verdadeira abre mão do seu prato de comida para alimentar o filho, da uma roupa desejada para vestir o filho, do seu sono e descanso para velar a saúde do filho.

E quanto a vida? Abre mão da sua própria para que o filho viva. Assim fez Helena. Essa era a sua intenção.

Perante o Alto, as intenções têm mais peso que os atos, pois são elas que vem do coração. Isso é o que vale.

Helena queria, tenho certeza, criar essa criança ao seu lado. Mas, o destino lhe envolveu numa escolha. E ela, somente, escolheu.

Tranquilize o seu coração, meu amigo. Helena não é suicida.

Agora, Luiz sentia-se melhor, graças aos esclarecimentos de Plínio.

Juntos, fizeram uma oração e seguirão em frente.

Que Jesus Continue nos abençoando

Duque de Caxias, 09 de Maio de 2016

3 comentários sobre “A Mae Suicida – André Luiz Gadelha

  1. Maravilhoso coração de Mãe! Maravilhosa lição de coragem e de amor! Pode ser que ela estivesse em grande dívida para com esse espírito que agora acolheu no seu ventre, só Deus é que sabe, mas é preciso uma enorme força de caráter, coragem e amor, para tomar a decisão certa na hora certa. Que Deus dê forças a todas as Mães para bem cumprir as suas missões, impliquem elas o sacrifício que for necessário. Bem haja ao “Mensagens Espíritas” pelas suas lições. Que Deus os abençoe!

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  2. O espírito Helena em questão, simplesmente deu uma verdadeira demonstração do que pode ser amor, Jesus nos deu sua vida para salvar as nossas e, suicídio foi o que fizemos ceifando a vida Daquele que nos amou e continua nos amando.

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