A RODA DO RESGATE
No meio da madrugada, o soar de um pequeno sino rompe o silêncio do pátio de um convento.
Era o sinal que acordava a Irmã Alice, anunciando mais um irmãozinho confiado a ela na roda dos enjeitados. Enfrentando o sereno noturno, Alice envolvia os pequeninos em seus braços com um afeto comparável a de uma mãe.
Ela, auxiliada pelas companheiras de reclusão, cuidavam e criavam essas crianças que, assim, recebiam os carinhos e a educação negados pelos familiares de sangue.
Mas, nem sempre foi assim.
Em outra existência, a Irmã Alice atendia pelo nome de Mercedes, conhecida curandeira de uma cidade. Tratava-se de uma mulher com conhecimentos à frente do seu tempo a respeito das ciências da natureza.
Em sua casa simples, recebia todo o tipo de gente, a procura de alívio para os seus males. Mas, muitas foram as infelizes que a procuraram para por em prática a nefasta decisão do aborto.
Mercedes, sem nada questionar, executava o assassinato, pondo fim aos planos de evolução de tantos espíritos em troca de moedas.
Eram irmãozinhos que sofriam a negação, de forma violenta e covarde, às oportunidades de evolução que se fazem necessárias na carne. A eles, Mercedes oferecia-lhes a morte.
Retornando à pátria espiritual, passa por um longo período de sofrimentos promovidos pela vingança de parte dos que lhes foram vítimas, até que entendeu a gravidade do que havia cometido e, exausta das obsessões, prostra-se no chão a pedir auxílio do Alto.
Foi socorrida e levada a uma colônia onde, após mais algum tempo, adquiriu condições de pedir por uma nova oportunidade terrena.
Porém, como forma de resgatar as dívidas pretéritas, solicita que lhe seja negada a felicidade de ser mãe, já que, dessa vontade, privou tantas que foram levadas pelos pais temerosos em terem o nome de suas filhas como tema de fofocas e as maledicências.
Mas, que também, tivesse a oportunidade de cuidar, educar e orientar aos espíritos que, outrora, fez mal.
Foi dessa forma que Mercedes, como Irmã Alice, conseguiu dar vida àqueles aos que, no passado, havia dado a morte.
Que Jesus continue nos abençoando.